O que é racismo ambiental e o que tem a ver com as tragédias das barragens?

 

Você já parou para pensar para onde vai o lixo da sua cidade? Já pensou também onde novos empreendimentos são construídos? Esses locais são áreas ricas ou pobres? Possuem infraestrutura básica para viver? Provavelmente muitos de vocês nunca analisaram isso e é nesse contexto que está presente o racismo ambiental.

O termo faz referência às injustiças sociais, ambientais ou a qualquer prática política que provoquem perda ou ausência de direitos básicos sobre etnias e populações mais vulneráveis.

No Brasil, esse conceito se expandiu também aos povos indígenas, com suas terras não demarcadas, além dos locais com alto risco de deslizamentos, favelas, lixões e áreas urbanas não atendidas com saneamento básico.

 

Onde e quando surgiu o termo racismo ambiental

 

Surgiu nos Estados Unidos, em 1981, pelo líder afro-americano de direitos civis Dr. Benjamin Franklin Chavis Jr. em um contexto de manifestações do movimento negro contra injustiças ambientais.

Está relacionado às formas desiguais pelas quais etnias e populações vulneráveis são tratadas e expostas a locais poluídos, sem infraestrutura adequada, juntamente com a exclusão da tomada de decisões na aplicação de políticas ambientais.

Por que algumas comunidades são mais afetadas por problemas ambientais?

 

As principais vítimas do racismo ambiental são as comunidades historicamente excluídas como as populações negras e pobres, além dos indígenas, quilombolas e outros grupos étnicos que são ignorados perante os processos de participação política e se encontram em desvantagem econômica.

Muitas dessas comunidades estão localizadas em áreas onde se instalam hidrelétricas ou mineradoras que expulsam a população desses territórios ou promovem a degradação do meio ambiente, com a contaminação do solo, dos recursos hídricos e a ausência de saneamento básico.

Já no meio urbano, geralmente as áreas escolhidas para as instalações desses empreendimentos de grande porte e também de lixões são as regiões mais pobres, o que torna o ambiente insalubre e gera a discriminação aos grupos sociais que vivem no entorno.

O que o racismo ambiental tem a ver com as tragédias das barragens?

 

A barragem de Fundão da mineradora Samarco rompeu em Mariana (MG), em dezembro de 2015, poluindo a bacia do Rio Doce, matando 19 pessoas e destruindo toda a comunidade de Bento Rodrigues, que existia desde o século XVIII. Das vítimas imediatas, 84,5% eram negras. A lama tóxica contaminou as águas e o solo, matou peixes e a subsistência das comunidades ribeirinhas.

Quatro anos depois, em janeiro de 2019, outra barragem de rejeito de minério se rompeu, desta vez na Mina do Córrego do Feijão, localizada em Brumadinho (MG), de responsabilidade da mineradora Vale. Foram 270 mortos, 11 desaparecidos e duas localidades atingidas: Córrego do Feijão e o Parque da Cachoeira. Também nesses locais, a maioria da população se declara como não branca, sendo respectivamente 58,8% e 70,3%. A renda média familiar em Córrego do Feijão era de menos de dois salários mínimos. (Censo 2010 – IBGE)

Realidades como essas mostram como o racismo ambiental está inserido nos desastres de barragens, em que comunidades inteiras foram arrasadas pelos rejeitos da mineração, assim como, histórias e culturas. É preciso que a preocupação com a justiça ambiental seja o centro dos planos de recuperação econômica desses locais para que circunstâncias injustas e desiguais das quais essas pessoas são submetidas sejam reparadas e deixem de existir.

NAAÇÂO em Brumadinho

 

A NAAÇÂO não fecha os olhos diante dessas situações e vem atuando em Brumadinho no desenvolvimento de lideranças locais e atividades para diversos públicos, sendo fundamental para a reestruturação da comunidade desde o rompimento da barragem.

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