O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é um documento constitucional muito importante no Brasil. Criado apenas em 1990, ele determina que crianças e adolescentes sejam vistos como indivíduos e tenham garantidos seus direitos humanos fundamentais. Alguns dos mais importantes são o direito à convivência familiar, à educação, à saúde e ao lazer. Isso, por si só, já foi uma revolução na maneira como a lei e a sociedade enxergavam os menores de 18 anos. 

Para entender a real importância do ECA hoje, é preciso compreender como funciona o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente atualmente. Além disso, é importante pensar no cenário que se coloca para crianças e adolescentes em todo o Brasil em 2021. 

 

Como é estruturado o Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente?

 

O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGD) foi criado pelo Estado para organizar a sua atuação dentro do que foi determinado no ECA. Esse sistema é composto por vários órgãos que interagem entre si para garantir que os direitos desse grupo sejam cumpridos. Essa atuação se divide em atendimento, defesa e controle.

 

No pilar do atendimento, estão englobados o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), o Sistema Único de Saúde (SUS) e os serviços de educação, ou seja, tudo o que contribui para atender aos direitos e necessidades das crianças e adolescentes, garantindo sua proteção e educação. No eixo de defesa estão o Conselho Tutelar, a Segurança Pública, a Defensoria Pública, Ouvidoria, Comissões Judiciais de Adoção e os Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (CEDECA), que garantem o acesso da criança e do adolescente à justiça. Por fim, o eixo do controle defende os direitos desse grupo etário, em interlocução com outras entidades e inclui Conselhos de Direito, Conselhos e Setoriais. 

 

Essa é a teoria, mas, na prática, a criança e o adolescente estão realmente protegidos e tendo acesso a todos esses direitos? 

 

Como o Estatuto da Criança e do Adolescente se aplica nas comunidades?

 

É fato que o ECA permitiu que o Brasil alcançasse taxas muito menores de crianças fora da escola e de trabalho infantil. Entretanto, o SGD não consegue, ainda, garantir que todos tenham acesso a esses direitos.

 

Segundo o IBGE, em 2018, 46,8% das crianças brasileiras menores de 14 anos viviam em condição domiciliar de baixar renda, ou seja, menos de meio salário mínimo de renda mensal familiar per capita. A pobreza em muitas regiões acaba por privar a criança de vários direitos, como segurança alimentar e saúde de qualidade. Além disso, o acesso à educação ainda deixa muito a desejar. A meta do Plano Nacional de Educação é ter 50% das crianças entre 1 e 3 anos matriculadas em creches até 2024 e hoje a média de matrículas no Brasil é de apenas 28,6%.

 

Até mesmo coisas que para muitos parecem básicas, como água potável e esgoto encanados, faltam em muitas comunidades no Brasil. Existem ainda questões mais elaboradas, mas igualmente importantes para o desenvolvimento do jovem, como o acesso à cultura e ao esporte. Contudo, esses direitos são ainda mais frequentemente negados aos jovens periféricos. Eles muitas vezes frequentam escolas que nem mesmo estrutura de quadra esportiva tem.

 

Na comunidade Portelinha, em Belo Horizonte, o esgoto corre a céu aberto no mesmo local em que as crianças brincam.

Na comunidade Portelinha, em Belo Horizonte, o esgoto corre a céu aberto no mesmo local em que as crianças brincam.

 

Obviamente, o ECA é muito importante para as crianças e adolescentes brasileiros e que já houve muitos ganhos desde a sua criação, mas a situação deles nas comunidades pelo Brasil afora está muito longe do ideal. 

 

Como crianças e adolescentes foram afetados pela pandemia?

 

A pandemia mudou a vida de todos os brasileiros, mas afetou de forma muito particular as crianças e adolescentes. Com escolas fechadas há mais de um ano em algumas regiões do país, não é apenas o direito à educação que lhes é negado. É preciso pensar que na escola, muitas crianças recebem a merenda que garante sua nutrição, praticam atividades físicas, tem acesso à cultura, socializam e podem até receber algum tipo de apoio à saúde. 

 

Além de todo prejuízo que as escolas fechadas trazem para esses jovens, a pandemia agravou problemas antigos no Brasil: a fome e a pobreza. E quando uma família não tem o suficiente para se manter, as crianças mais velhas precisam trabalhar e as mais novas têm seu desenvolvimento prejudicado pela desnutrição. A insegurança alimentar pode inclusive contribuir muito para a evasão escolar neste momento.

 

Com sua saúde, seu desenvolvimento físico e mental, sua educação e seu lazer comprometidos, crianças de todo o Brasil sofrem ainda mais durante essa pandemia. As mais pobres são, também nesse caso, com certeza, as mais afetadas. 

 

Crianças brincando em uma comunidade vulnerável de Minas Gerais.

Crianças brincando em uma comunidade vulnerável de Minas Gerais.

 

O momento atual exige que todos prestemos atenção às crianças do nosso país e nos mobilizemos para assegurar que seus direitos, garantidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, não fiquem só no papel. O NAAÇÃO trabalha durante essa pandemia apoiando famílias com alimentos para aliviar o peso que esta pandemia trouxe para as mães e crianças mais pobres. 

Acreditamos que para que uma comunidade se desenvolva, suas crianças precisam ter acesso a saúde, educação e alimentação de qualidade. Você pode nos ajudar a levar mais dignidade para crianças em comunidades vulneráveis, venha conhecer melhor o NAAÇÃO!